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A Jornada do Herói: uma parábola para o caminho de vida dos seres humanos.

  • Foto do escritor: Cláudia Casavecchia
    Cláudia Casavecchia
  • 28 de abr.
  • 3 min de leitura

A jornada do herói é a estrutura de todos os mitos, lendas e contos de fadas ao redor do mundo e ao longo do tempo. Ela nos mostra a maneira pela qual uma pessoa se põe a caminho para realizar uma grande obra. Trata-se da mesma história, contada com personagens diferentes, até hoje. Entretanto, ninguém a inventou, descobriu ou imaginou. Eis uma história simbólica para o caminho de vida percorrido por um ser humano e, por isso, é contada e recontada, para nos lembrar o que estamos fazendo aqui.


Essas raízes foram pesquisadas, estudadas e elaboradas por diversos etnólogos, psicólogos e sociólogos, com destaque para o psiquiatra suíço Carl Gustav Jung, que explicou de forma esclarecedora a fenomenologia dos temas que se remetem à alma humana de cada ser humano. Jung nos mostra que não são apenas os sinais externos que nos caracterizam como seres humanos, mas aspectos interiores que se repetem ao longo das eras, apresentando-nos, assim, o conceito de inconsciente coletivo.


No inconsciente coletivo, encontram-se imagens primordiais da alma humana, que nos são inerentes e que conectam todos os indivíduos. A jornada do herói é uma trama tecida a partir de tais imagens primordiais, e é por isso que esse caminho nos parece familiar, apesar das variações em que são compostas. Ela descreve a busca aventureira de um tesouro difícil de encontrar. O filólogo Walter Burkert diz:


"De uma perda inicial ou de uma incumbência resulta uma tarefa que o herói tem de executar. Ele se põe a caminho, encontra adversários e ajudantes, consegue um encantamento mágico decisivo, enfrenta o adversário, vence-o, não raro sendo ferido; ele consegue o que procurava, põe-se a caminho de casa, eliminando seguidores e concorrentes. No final, há um casamento e a subida ao trono."


Assim, podemos encontrar a estrutura dessa trajetória, em sua forma perfeita, nas cartas dos Arcanos Maiores do Tarô, sendo seu significado perfeitamente compreensível para a nossa jornada de vida. Seus temas essenciais foram inspirados na leitura celeste, antes que os cientistas (Nicolau Copérnico) introduzissem uma nova perspectiva. Por isso, independente da compreensão da realidade dos movimentos de translação e rotação da Terra, aqui nos detemos ao modo como a humanidade experimenta o movimento do Sol, desde o começo dos tempos: ele nasce pela manhã e se põe no porvir. No centro, há uma montanha, onde vivem os homens, e de cada lado há uma coluna poderosa que sustenta os céus, sendo a da esquerda coroada pela Lua e a da direita, coroada pelo Sol. Juntas, constituem a abóbada celeste, sob a qual vivemos fora de perigo.


Nessa observação reside a especulação e a busca de explicação de todos os povos: de que forma o Sol desaparece e renasce? Deve haver um mundo subterrâneo onde ele se esconde e para onde vão as almas das pessoas que falecem. Há também uma luta que se dá à meia-noite contra a força das trevas, e o nascer do Sol a cada dia é a prova de que a luz sempre vence a batalha. Nesse mesmo sentido, há explicações sobre o ciclo lunar, que também deveria atravessar o mundo subterrâneo.


De maneira análoga aos fenômenos celestiais, existe nas tradições de muitos povos a história de um herói que desce ao submundo para realizar uma grande obra e retorna vitorioso dessa jornada ao inferno, depois de três dias, como por exemplo na história de Jesus, que morre e ressuscita no terceiro dia. A civilização egípcia nos apresenta o protótipo dos Arcanos Maiores, reproduzindo a jornada do Deus Rá, com inúmeras ilustrações. Cabe salientar que, mesmo que os mitos sejam contados a partir de uma entonação patriarcal, a jornada do herói representa o caminho de ambos os gêneros, já que, como afirma Banzhaf:


"Para se tornarem inteiros, os homens e as mulheres têm de percorrer tanto o caminho masculino quanto o feminino."


Jung denomina a jornada de autorrealização humana como o processo de individuação, que consiste em resgatar sua originalidade, permitindo que o seu padrão de origem vá ganhando forma para encontrar a totalidade do ser. Nessa trajetória, também podemos encontrar o caminho do Sol, sendo a primeira metade da vida voltada para o desenvolvimento exterior e a segunda metade da vida, para o interior.


Nessa busca, o herói que sai à procura do tesouro desconhecido enfrenta as sombras inconscientes da sua personalidade na descida ao mundo subterrâneo e, quando as vence, retorna ao seu caminho como o Sol que desponta no horizonte, em direção ao mundo (objetivo máximo dessa saga) — o seu tesouro pessoal — para enriquecer a humanidade.


Cláudia Casavecchia

BANZHAF, Hajo. O Tarô e a Jornada do Herói. São Paulo: Pensamento, 2023.

 
 
 

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