Dança integrativa: uma proposta de integração da consciência através do movimento.
- Cláudia Casavecchia

- 11 de jul.
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A dança integrativa é uma proposta de dança e movimento expressivo, baseada na educação somática e tem como principal objetivo, resgatar a capacidade inerente do ser humano de dançar. Cabe salientar que não se trata de um método, mas de uma perspectiva, que se utiliza de diversas abordagens, desenvolvidas ou aprimoradas por dançarinos e educadores somáticos ao longo da história e está pautada em pressupostos antropológicos, biológicos, sociológicos, filosóficos, psicanalíticos e neurocientíficos, que pressupõem a consciência integrada do sujeito em seu corpo ocupacional, inserido em determinada sociedade.
Essa visão se opõe à rigidez formalista da dança, bem como a sua apresentação mecânica e dissociada do eu e valoriza o corpo como território de escuta, autonomia, expressão e transformação. As aulas são concebidas como um laboratório corporal vivo, onde cada participante é convidado a explorar o movimento não como forma estética imposta, mas como revelação sensível de sua própria presença: no palco e para além do palco, em sua vida cotidiana. Dessa forma, viabiliza-se também, o resgate da arte popular que se reintegra à existência, oferecendo à população condições de apropriação de seu espaço artístico e cultural, peculiares à condição humana.
O fundamento do trabalho consiste na experimentação, no desenvolvimento e na expressão dos múltiplos aspectos do corpo, de maneira consciente. Tais vivências, fomentam a manifestação e a compreensão viva dos processos de expressão corporal, através da ampliação da consciência, do aprimoramento do contato do participante consigo mesmo, com o outro e com o grupo. Nesse sentido, visa-se reintegrar a consciência dos aspectos dissociados do sujeito em si: corpo, psique, sociedade e arte.
O fio condutor que fundamenta essa prática, tem suas raízes na Pedagogia do movimento, desenvolvida por Yvonne Berge, sob as diretrizes da escola de Elizabeth Duncan, irmã de Isadora Duncan, precursora do Ballet Moderno (Salzburgo, meados do século XX). Tais pressupostos compõem e direcionam um encadeamento lógico, que sustenta tal premissa. Os pilares da pedagogia, propostos por Yvone Berge são:
1. A consciência da unidade psicossomática: na proposta de reintegração psicofísica em grupo, parte-se do princípio de que corpo, mente, sociedade e cultura não estão dissociados: o corpo sente, pensa e se expressa em determinada sociedade em dado momento histórico. Este eixo propõe uma escuta profunda do corpo como totalidade viva — onde tensões emocionais, pensamentos, gestos e respiração se entrelaçam.
2. Eutonia: a percepção e a autorregulação do tônus muscular, foi inspirada nos princípios de Gerda Alexander, sendo a eutonia, a arte de escutar e regular o tônus a partir da vivência interna. Na dança integrativa, isso se traduz em práticas que modulam tensões e liberam a rigidez, permitindo ao sujeito encontrar seu ponto de equilíbrio dinâmico, a fim de libertar o corpo dos condicionamentos e automatismos, promovendo um estado de prontidão sensível, onde o gesto é a expressão do “sentir”.
3. Eixo e segmentos corporais: a consciência da organização corporal — eixo vertical, apoios, articulações e segmentos — é um dos pilares da educação do movimento. Explorar o centro, os apoios e a articulação entre partes do corpo, permite ampliar a autonomia gestual, desenvolvendo uma estrutura interna coerente, que favoreça a fluidez, o equilíbrio e a sustentação do movimento.
4. Coordenações instintivas: a dança integrativa valoriza os gestos espontâneos e primordiais do corpo, aqueles que surgem sem mediação racional ou formal, sendo resultado do resgate do movimento coordenado, que reúne instinto, emoção e liberdade de ser. Ao recuperar padrões de movimento naturais (engatinhar, saltar, cair, espreguiçar-se), resgata-se também a potência criadora do corpo instintivo.
5. Ritmo e musicalidade: o ritmo é mais do que medida musical, é pulsação da vida. Através da música ou do silêncio rítmico do próprio corpo (batimentos, respiração, caminhar), a dança integrativa propõe experiências que desenvolvem o senso de tempo, pausa, aceleração e repetição, permitindo ao sujeito, a percepção do ritmo como fluxo interno, não como imposição externa, favorecendo a musicalidade orgânica do movimento.
6. Orientação espacial: a propriocepção é a capacidade de perceber-se no espaço e de sentir a posição das partes do corpo, para além da visão. Nas práticas integrativas, essa dimensão é despertada por deslocamentos conscientes, variações de planos (alto, médio, baixo), e pela escuta do ambiente através do corpo, a fim de cultivar a orientação espacial a partir da percepção interna, desenvolvendo presença, enraizamento e relação com o mundo.
7. Expressão: a liberdade e a expressão criativa por fim é o coroamento do processo integrativo. Ao acessar seu eixo, seu tônus justo, sua espontaneidade, ritmo e percepção espacial, o corpo está pronto para expressar sua verdade singular. A expressão na dança integrativa não é performance, mas revelação, ao permitir que o corpo fale sua linguagem própria, sem censura, sem forma prévia, com liberdade e autenticidade.
A partir dessa perspectiva, encontramos na dança um caminho de retorno à escuta do corpo sensível, expressivo e inteiro. Seu valor está em permitir que cada sujeito se reencontre consigo através do movimento consciente, criativo e afetivo, já que o corpo não é só instrumento da dança, ele é o próprio sujeito dançante em busca de si, do outro e do mundo.
Cláudia Casavecchia
Facilitadora de Dança Integrativa e Formanda em Biodança
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