Para viver o transcendental
- Cláudia Casavecchia

- 25 de abr.
- 2 min de leitura
Para a analista Junguiana, autora da obra Mulheres que correm com os lobos, ao adentrar o campo do inconsciente, devemos nos precaver com alguns cuidados. A fim de ilustrar essa premissa, ela inicia seu discurso com um conto: "Os quatro rabinos".
Este conto, enfatiza uma mensagem de diligência acerca das experiências profundas da psique. Após visitarem a sétima esfera da abóbada celeste, quatro rabinos retornam e expressam, cada qual a seu modo, as suas impressões: o primeiro permanece em êxtase e enlouquece; o segundo se mostra cínico e racional; o terceiro se torna obsessivo e passa a pregar sua vivência pessoal como uma doutrina. O último, verdadeiramente, se transforma e começa a enxergar a beleza à sua volta, compondo poemas e canções, vivendo sua vida de outra maneira.
Assim, o contato com algo “fora do normal” nos preenche com uma sensação de amplitude e grandeza, permitindo a expressão de nossa natureza mais profunda. Esse conto nos mostra que a atitude mais adequada para vivenciar tais camadas inconscientes é a do “fascínio sem exagero ou retraimento, sem excessos de admiração ou de cinismo; com coragem, sim, mas sem imprudência”.
Jung, em seu ensaio "Função Transcendente", destaca que o contato transcendental resulta em atitudes como: exagero estético, experiência subestimada ou supervalorizada a ponto de ferir. Ele nos fala também da obrigação moral, que consiste em oferecer à humanidade os tesouros resgatados nessas experiências, em qualquer terreno da psique: paraíso, deserto, submundo.
Para Estés, a técnica de meditação das mulheres é a evocação de aspectos mortos e desintegrados em si mesmas, bem como o resgate do discernimento entre aquilo que deve viver e aquilo que deve morrer, reconhecendo os ciclos da vida e da morte, e afirmando sua liberdade para sentir raiva, criar, falar, se movimentar.
Neste capítulo, a autora se refere aos ovários como portadores da semente da vida, sendo a semente o elemento mais resistente da natureza, com extrema potência criadora, enquanto os ossos, representam na simbologia arquetípica, a força indestrutível.
No que diz respeito à voz, Estés apresenta as seguintes questões:
O que aconteceu com a voz da minha alma?
Quais são os ossos enterrados na minha vida?
Em que condições está meu relacionamento com o Self instintivo?
Quando foi a última vez que corri livremente?
Como posso fazer para que a vida volte a ter vida?
Para onde foi La Loba?
“A psique de uma mulher pode ter chegado ao deserto em virtude da ressonância, devido a crueldades passadas ou por não lhe ter sido permitido uma vida mais ampla a céu aberto. Por isso, muitas vezes uma mulher tem a sensação de estar vivendo num local vazio, onde talvez haja apenas um cacto com uma flor de um vermelho vivo, e em todas as direções, 500 quilômetros de nada. No entanto, para aquela que se dispuser a andar 501 quilômetros, existe mais alguma coisa. Uma casa pequena e admirável. Uma velha. Ela está à sua espera".
ESTÉS, Clarissa Pinkola. Mulheres que correm com os lobos: mitos e histórias do arquétipo da mulher selvagem. Rio de Janeiro: Rocco, 1992.
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