Símbolos da transformação: principais críticas de Jung à Psicanálise Freudiana.
- Cláudia Casavecchia

- 17 de jul.
- 3 min de leitura
Atualizado: 20 de jul.
No prefácio de Símbolos da Transformação, livro que marca a ruptura entre Freud e o "príncipe herdeiro da psicanálise", Jung expressa suas primeiras críticas com relação à teoria freudiana. Em suas palavras:
“O molde dentro do qual Freud estendeu o fenômeno anímico pareceu-me insuportavelmente estreito. Refiro-me ao causalismo redutivo de suas teorias em geral e ao fato de praticamente não levar em consideração a finalidade tão característica de tudo o que é psíquico. Seus conceitos se movem dentro dos limites do racionalismo e do materialismo científico característicos do fim do século XIX.” (Jung, 2021, p.12)
A seguir, exploramos o sentido profundo dessa crítica:
1. O molde estreito da psique
Jung considerava que a visão de Freud sobre a psique era limitadora, quase sufocante. Para Freud, os fenômenos psíquicos eram compreendidos como resultado de causas passadas: traumas infantis, desejos reprimidos, pulsões inconscientes. Essa leitura tornava a psique algo quase mecânico — um sistema fechado que precisava ser consertado com base em eventos do passado.
Jung, por outro lado, via a psique como um organismo vivo, simbólico e dinâmico, movido não apenas pelo que aconteceu, mas também por aquilo que ainda busca realização.
2. Causalismo redutivo
A crítica de Jung ao "causalismo redutivo" é central: Freud explicava a alma como produto direto de causas anteriores, e tudo — sonhos, sintomas, imagens — era reduzido a fatores sexuais, traumáticos ou instintivos. Esse tipo de interpretação ignorava a complexidade e a riqueza simbólica do inconsciente.
Para Jung, a alma não pode ser reduzida a uma engrenagem que gira apenas pelo passado. Ela também se orienta para o futuro, para o que ainda não é, mas deseja nascer.
3. A finalidade psíquica
Aqui reside uma das maiores diferenças entre Freud e Jung. Freud olhava para o inconsciente como um depósito de conteúdos reprimidos, que precisavam ser trazidos à luz. Jung reconhecia esse aspecto, mas ia além: acreditava que o inconsciente também é orientado por uma finalidade — ou seja, ele não só retém o passado, mas antecipa o futuro.
A psique, segundo Jung, é criativa e simbólica. Ela sonha com imagens que revelam para onde a alma quer ir. Os sonhos, os sintomas e os arquétipos não são apenas memórias congeladas: são sementes de transformação.
Exemplo prático:
Freud diria: “Você sonhou com um rio porque reprimiu um desejo sexual.”
Jung diria: “Esse rio pode ser uma imagem arquetípica, símbolo de fluxo, renovação e destino. Algo em você quer se mover para a vida.”
4. Racionalismo e materialismo científico do século XIX
Por fim, Jung critica o viés excessivamente racional e materialista de Freud, influenciado pelo espírito científico de sua época. Freud buscava explicar tudo de forma lógica e mensurável, ignorando o mistério, o sagrado, o simbólico — aquilo que Jung chamaria de numinoso. Para Jung, a psique é também um templo, e não apenas um laboratório. Ela não pode ser dissociada do mito, da espiritualidade e da busca por sentido.
Em síntese, Jung rompe com Freud porque vê a alma não apenas. como uma máquina doente, mas como um campo de forças simbólicas, onde passado, presente e futuro se entrelaçam. Enquanto Freud buscava curar olhando para trás, Jung acreditava na transformação que nasce do encontro com o símbolo e com o destino da alma.
Cláudia Casavecchia
JUNG, Carl Gustav. Símbolos da transformação. São Paulo: Cultrix, 2021.
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